quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Encontro

    Fonte: http://www.jblibanio.com.br                                 

  

                                                                                       
Todos nós já experimentamos, em nossas vidas, que quando o sofrimento presente é muito grande, temos dois caminhos de solução, que também Jesus e Maria tiveram naquela hora, como humanos que eram. O presente é tão duro, tão pesado – Maria vendo o sofrimento de Jesus, e Jesus vendo o sofrimento de sua mãe –, que, de repente, os dois perceberam que não suportariam apenas aquele presente e precisaram recorrer a dois olhares: para o passado e para o futuro. Olhando para o passado, tanto Maria quanto Jesus, vasculhando sua fantasia, sua imaginação e, sobretudo, sua memória, puderam recordar momentos de alegria, de beleza, que os ajudaram a suportar aquele momento de dor e sofrimento. Posso imaginar que Maria, olhando para o rosto de Jesus, tenha percorrido numa imensa rapidez, aqueles trinta anos em que Ele viveu junto dela. Quantas memórias, quantas lembranças, quanto sentimento, quanto afeto, ela guardava daquele Jesus pequenino, adolescente, jovem?! Quantas vezes terá ensinado, indicado o caminho, acariciado, tomado em seu colo aquele Homem que agora tinha diante dela, sofrido, marcado, zombado, coroado de espinhos?I Essa memória do passado foi dando um pouco de alento para Maria. Aquele Homem que ela via era o mesmo com quem tanto convivera, tanto amava, mesmo parecendo tão desfigurado, tão desfeito, tão diferente. Também Jesus precisou recorrer à sua memória diante do presente tão duro que vivia. Ele era humano, tão humano, que só podia ser realmente Deus. Horas antes, no Horto das Oliveiras, mal podia aguentar a ansiedade da espera pelas horas pesadas que viriam. Chegou mesmo a clamar ao Pai que afastasse dele todo aquele sofrimento, mas que fosse feita a sua vontade. Era preciso buscar no passado lembranças que lhe dessem força para suportar o presente, e pôde encontrar experiências belíssimas, a começar pela convivência de tantos anos com a própria mãe. Terá recordado também os anos da vida pública e um momento especial que terá sido muito importante para Jesus naquela situação em que parecia que o Pai maior o tinha esquecido, o abandonado. Esse sentimento é tão forte que na cruz, Ele chegará a gritar: “Meu Deus, Meu Deus, por que me abandonaste?”. Naquele momento de escuridão absurda, Ele pôde olhar para trás e encontrar uma réstia de luz, de sentido. Recordou uma experiência vivida com três apóstolos dos mais queridos – Pedro, Tiago e João –, com quem subira a um alto monte para rezar, como era de seu costume. Lá teve uma experiência tão profunda do amor de seu Pai, que os apóstolos o sentiram iluminado, transparente, mergulhado no amor de Deus. Em meio a tanto silêncio, os discípulos ouviram uma voz dizendo: “Este é o meu Filho muito amado. Escutai-o!”. Aí Jesus teve a certeza de que aquela voz que um dia dissera que Ele era o Filho muito amado era do mesmo Pai que nunca o abandonaria. São frases bonitas como essa que todos os filhos ouvem de seus pais, que continuam em nossos corações como memória profunda, que acordarão nossos corações nos momentos de dor e sofrimento.
 
Neste momento, em que mãe e filho se encontram numa caminhada dolorosa a caminho da cruz, que os dois possam recordar todas as belezas que viveram juntos. Dizia-lhes que são dois olhares e já lhes falei sobre o olhar do passado, no qual encontraram forças interiores para continuarem juntos a subida para o Calvário. Mas o passado não foi suficiente, porque a dor era grande demais. Era preciso lançar um olhar para o futuro que só podia se basear na fé. Jesus sabia que em poucas horas estaria morto, que uma grande agonia o esperava. Portanto, só lhe restava olhar para o futuro. Maria trazia a fé judaica, que lhe dizia que os justos, quando morressem, seriam um dia ressuscitados. Essa fé fazia com que ela olhasse para um futuro longínquo, quando poderia ter a experiência de seu filho ressuscitado. Jesus, como judeu, tinha a mesma fé, mas trazia uma consciência mais profunda de que era Filho de Deus, e que Ele não esperaria o final dos tempos para ressuscitá-lo. Portanto, passadas aquelas horas de sofrimento, Ele mergulharia na glória, na festa, no gozo e poderia reencontrar a sua mãe, e os dois poderia esquecer aquele encontro de dor. Com esses pensamentos, seu olhar terá atingido um brilho diferente, e Maria, percebendo aquela transformação no olhar de seu Filho, teve força para se aproximar ainda mais dele, e mesmo sabendo que em poucas horas se separariam fisicamente, tinham a certeza de uma eternidade de luz e de graça. Amém.



                                                                                  

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